Doenças provocadas por água contaminada

Cólera

O que é?

Doença intestinal infecciosa causada pela toxina do vibrião colérico.

Como se adquire?

Através da ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes ou vómitos de doentes ou portadores. O reservatório principal é o homem, mas estudos recentes sugerem a existência em frutos do mar. O período de incubação varia de horas até cinco dias.

O que se sente?

Inicialmente, surge diarreia aquosa em grande quantidade, com ou sem vómitos, dor abdominal, cãibras; se não tratado prontamente, pode haver piora do quadro com desidratação severa, choque e diminuição da função renal. O leite materno protege as crianças.

Como se previne?

Existem medidas colectivas que previnem a cólera:

-Oferta de água potável em boa quantidade e qualidade
-destino e tratamento de esgotos
-destino e colecta adequada do lixo
-manejo adequado dos cadáveres
-controle dos portos, aeroportos e rodoviárias.

A higiene dos alimentos, a lavagem vigorosa das mãos e outros procedimentos básicos de higiene contribuem para a prevenção.
Nos casos de pacientes hospitalizados, deve haver isolamento dos mesmos com processamento das roupas, fezes e vómitos.

 

Amebíase

O que é?

É uma infecção por parasita ou protozoário que acomete o homem podendo ficar restrita ao intestino, tendo como principal sintoma a diarreia, ou não causando febre e sintomas diferentes dependendo do órgão “invadido”. Mais frequentemente o órgão preferencial a ser comprometido é o fígado. O agente causal é a Entamoeba hystolitica. Este parasita infecta aproximadamente 1% da população mundial, principalmente a população pobre de países em desenvolvimento. Recentemente identificou-se um parasita com a mesma forma da Entamoeba hystolitica que não causa doença (Entamoeba díspar). Isto é importante porque o achado da ameba nas fezes de um indivíduo não necessariamente caracteriza amebíase. A E. díspar não é causadora de doença e a hystolitica pode estar presente no indivíduo e não causar doença. A diferenciação de uma para a outra é feita por exames de laboratório e raramente se mostra relevante.

Como se adquire?

Através da ingestão de alimentos ou água contaminada com matéria fecal contaminada com os cistos da Entamoeba. Pode-se adquirir de outras formas, mas são bem menos frequentes e estão restritas praticamente a pessoas com a imunidade comprometida.

 

Hepatite A

O que é?

É uma inflamação do fígado (hepatite) causada por um vírus chamado Vírus da Hepatite A (HAV). Pelo seu modo de transmissão, esse tipo de hepatite é típico de áreas menos desenvolvidas, com más condições de higiene e falta de saneamento básico. Nesses locais, incluindo a maior parte do Brasil, predomina em crianças pequenas (2 à 6 anos), porém, indivíduos que não tiveram a doença quando crianças, podem adquiri-la em qualquer idade.

Como se adquire?

Ocorre pela via chamada fecal-oral, na maioria das vezes com fezes de pacientes contaminando a água de consumo e os alimentos. Pode ocorrer também entre pessoas que utilizam piscinas com água mal tratada e compartilham toalhas e lençóis imperceptivelmente contaminados por fezes, por exemplo.

 

Febre tifóide

O que é?

A febre tifóide é uma doença infecciosa potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Salmonela typhi. Caracteriza-se por febre prolongada, alterações do trânsito intestinal, aumento de vísceras como o fígado e o baço e, se não tratada, confusão mental progressiva, podendo levar ao óbito. A transmissão ocorre principalmente através da ingestão de água e de alimentos contaminados. A doença tem distribuição mundial, sendo mais frequente nos países em desenvolvimento, onde as condições de saneamento básico são inexistentes ou inadequadas.

Transmissão

A S. typhi causa infecção exclusivamente nos seres humanos. A principal forma de transmissão é a ingestão de água ou de alimentos contaminados com fezes humanas ou, menos frequentemente, com urina contendo a S. typhi. Mais raramente, pode ser transmitida pelo contacto directo (mão-boca) com fezes, urina, secreção respiratória, vómito ou pus proveniente de um indivíduo infectado.
A acidez gástrica é o primeiro mecanismo de defesa do organismo contra a S. typhi. Quando consegue resistir à acidez do estômago, a S. typhi chega ao intestino delgado, onde compete com as bactérias da microbiota normal do intestino. Se sobreviver, a S. typhi invade a parede intestinal e alcança a circulação sanguínea. A presença da bactéria no sangue determina o início dos sintomas. A S. typhi pode invadir qualquer órgão e multiplicar-se no interior de células de defesa (células fagocitoses mono nucleares), sendo mais frequente o acometimento do fígado, baço, medula óssea, vesícula e intestino (ílio terminal). O tempo entre a exposição e o início dos sintomas (período de incubação) pode variar de 3 a 60 dias, ficando entre 7 e 14 dias na maioria das vezes. A infecção pode não resultar em adoecimento.
Uma pessoa infectada elimina a S. typhi nas fezes e na urina, independente de apresentar ou não as manifestações clínicas. O tratamento adequado diminui o tempo de eliminação da bactéria nas excreções humanas, que pode ser de até três meses em indivíduos não tratados. Cerca de 2 a 5% das pessoas, mesmo quando tratadas, tornam-se portadoras crónicas, o que é particularmente mais comum em menores de 5 anos, idosos e mulheres com patologias biliares. Os portadores crónicos podem eliminar a S. typhi nas fezes até por mais de um ano, tendo importância na manutenção da transmissão da doença.
Em geral, a água contaminada tem uma baixa concentração de bactérias, resultando numa taxa de infecção menor entre os expostos e, naqueles em que a infecção se desenvolve, o tempo de incubação é habitualmente mais prolongado. A S. typhi pode sobreviver em águas poluídas por até 4 semanas e é resistente ao congelamento. Não resiste, entretanto, a temperaturas maiores que 57º C, nem ao tratamento adequado da água com cloro ou iodo.
Os alimentos podem ser contaminados directamente pela água utilizada para lavá-los ou prepará-los, através de mãos não adequadamente limpas de portadores crónicos e, mais raramente, pela exposição aos insectos (como moscas). Embora a concentração inicial de bactérias nos alimentos recém-contaminados possa ser insuficiente para causar doença humana, sob condições ambientais favoráveis ocorre significativa multiplicação bacteriana, resultando em grandes inoculas por ocasião da ingestão.